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terça-feira, 27 de novembro de 2012

No Country For Old Man

   Nossa, acho que estou escrevendo demais. Nem quando quero ou espero fazer isso, me saem paredes de texto que dependendo nem eu mesmo leria. Mas eu confio nos caros visitantes do blog, e sei que irão aproveitar mais uma resenha feita com todo carinho. 
   Então vamo que vamo.

Onde Os Fracos Não Têm Vez
Direção: Ethan Coen
               Joel Coen

Roteiro: Cormac McCarthy
Gênero: Suspense / Drama
Duração: 122 min
Ano de lançamento: 2007

Sinopse:  
"Texas, década de 80. Um traficante de drogas é encontrado no deserto por um caçador pouco esperto, Llewelyn Moss (Josh Brolin), que pega uma valise cheia de dinheiro mesmo sabendo que em breve alguém irá procurá-lo devido a isso. Logo Anton Chigurh (Javier Bardem), um assassino psicótico sem senso de humor e piedade, é enviado em seu encalço. Porém para alcançar Moss ele precisará passar pelo xerife local, Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones)."


   Os faroestes saíram um pouco de foco a partir dos anos 80. Alguns poucos filmes continuaram e continuam a serem produzidos nessa temática clássica do cinema; mas nada que lembre os gloriosos anos de bang-bangs, pistoleiros andantes e ambientes desolados. A verdade é que o estilo foi aproveitado ao máximo, deixando-nos uma variedade gigantesca de películas aos mais variados gostos.

   Mas eis que nos surge No Country For Old Man. O filme dos irmão Coen (O Grande Lebowski e Bravura Indômita) se mostra como um suspense dramático de grande qualidade; mas a impressão que se tem o tempo todo é o de se assistir a um faroeste moderno. O meio-oeste americano continua a sediar implacáveis perseguições; mas no lugar de vilas e cavalos agora ficam grandes cidades fronteiriças e pick-ups. Os famosos bang-bang dão espaço a armas de pressão e tiros silenciosos, e problemas de gado e terras se transformam em negociações de cocaína mal sucedidas. É esta atualidade que consegue reviver o estilo, de forma bem sutil e encantadora aos seus apaixonados. 

Chigurh
   E não vamos nos esquecer dos protagonistas já conhecidos: o forasteiro, o cawboy e o xerife. Javier Barden (Mar Adentro e 007: Operação Skyfall) assume o primeiro papel, o mais impressionante do filme e talvez mais importante de sua carreira, como o psicopata Anton Chigurh. Sua serenidade se alterna com a brutalidade de forma banal, representada de melhor forma com ocara-coroa de vida ou morte. A falta de sentimentos do vilão é tenebrosa, de dar calafrios com seu olhar impiedoso e voz gélida. E são essas pequenas coisas que o tornam poderoso aos olhos e espetacular na atuação (mesmo que com aquela franja). Por isso recebeu 3 prêmios, um Óscar, um Globo De Ouro e um BAFTA de Melhor Ator Coadjuvante. Com grande mérito. 

   Chigurh tem como missão recuperar uma maleta de dinheiro roubada pelo personagem principal do thriller,  Llewelyn Moss (Josh Brolin), nosso cawboy do Texas. Bom, texano o personagem é, mas não passa de um caçador empobrecido buscando uma vida mais tranquila ao lado da mulher dentro de seu trailer. Em uma atuação boa, mas eclipsada por Barden, o ex-militar americano se vê como presa ao pegar a maleta recheada de dólares, numa das perseguições mais tensas que pude assistir. 

   O que é mais interessante nela são os aspectos opostos mas ao mesmo tempo complementares de caçador e caça: enquanto o primeiro é apático a suas ações, verdadeiramente psicótico, o segundo tenta ao máximo não transparecer seu medo, desespero - e não consegue, mostrando-se tão humano e frágil quanto seu rival consegue não ser. Às suas maneiras, dois perfeitos "machões" do velho oeste.

   Mas jamais o clima do filme seria tão intenso como com a trilha sonora escolhida. Nada. Apenas o silêncio, respirações, ventos repentinos e balas ao ar. As cenas de ação são amplificadas com o som ambiente, que somado as câmeras estáticas, conseguem captar o máximo da tensão entre os personagens. Com certeza este seja um dos maiores pontos do filme, uma escolha que poderia ter tornado-o muito entediante; mas ao contrário, deixa o thriller sensacional.

Ed Tom Bell
   E Tommy Lee Jones (MIB). Poderia facilmente esquecer de seu personagem se não fosse este a maior propaganda do filme. O ator sempre foi reconhecido como um grande artista, traz credibilidade hoje a qualquer lançamento. E nessa película não seria diferente. Sua atuação é realmente boa, a mais "humana" do filme (Chigurn pode até surpreender, mas nunca conheci alguém como ele), e parece querer representar exatamente isso. Jones interpreta o nosso  terceiro personagem, o xerife Ed Tom Bell, o "velho" que dá o nome ao filme (No Country For Old Man, Sem Lugar Para Velhos Homens, numa tradução literal). Seu papel é totalmente observatório às ações dos outros dois personagens, um policial chocado e abatido com os "novos homens", imorais, sem valores, naturalizados à violência dos dias atuais, sem quase nenhum poder de atuação. 

   Os pequenos e escassos diálogos que ele mantém apresentam sua frustração com o mundo; e são eles que não me fizeram absorver aquilo que o filme tentava passar. Acredito que o personagem de Tommy Lee Jones traduza um pouco do sentimento texano e americano diante da violência cotidiana. Ocorre que eu sou brasileiro, e pra mim muito de seus diálogos não fizeram sentido. Ou eu não tenha tido sentimentalismo suficiente para entende-lo. 

   Acontece que estas (e outras) cenas acabam quebrando o ritmo de thriller do filme, e eu não me senti muito bem com isso. Entendo que não tenha sido o foco do filme ser um bang-bang, e sim uma análise da violência desmedida humana representada pelo trio Chigurh-Moss-Bell. Mas não pude deixar de ficar decepcionado, diante do que poderia ter sido um filme pra me marcar.

   Pois bem, No Country For Old Man levou para casa os prêmios de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado além do de Melhor Ator Coadjuvante para Barden. Direção e atuação são pontos muito fortes do filme realmente; mas não achei suficiente para um óscar de melhor filme. Vendo os indicados do mesmo ano reparei que a concorrência não era grande coisa, o que talvez tenha influenciado (bastante) no prêmio. Mas não posso negar que o filme é bom, isso ele é. E aos amantes de faroestes, a lembrança lhes agradará mais ainda.