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terça-feira, 13 de novembro de 2012

Filme - A Clockwork Orange

Eu voltei, agora pra ficar. Porque aqui, aqui é o meu lugar! 
Com as palavras do rei (da velharada) Roberto Carlos eu retorno ao blog depois de mais de 1 mês sem postagens. Agora não tem mais ENEM, escola ou outra desculpa que me faça deixar de resenhar.

E pra voltar em grande estilo, o clássico dos clássicos:


Laranja Mecânica
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stanley Kubrick
               Anthony Burgess
Gênero: Drama / Ficção
Duração: 136 min 

Ano de lançamento: 1971

Sinopse:  
"No futuro, Alex deLarge (Malcom McDowell), um líder de uma gangue de estupradores, assassinos e ladrões, é preso. Ele é levado para uma cliníca em que é usado como cobaia de um experimento destinado a controlar seus instintos destrutivos, mas acaba se tornando impotente diante das violentas vinganças exercidas por suas vítimas.."


   Assisti às primeiras cenas de Laranja Mecânica bem novo, com uns 10 ou 11 anos. Inciei na curiosidade de tal estranheza no nome, sem a mínima pretensão de que esse seria um dos grandes marcos do cinema. E que marco, me fazendo desligar a televisão com 10 minutos de cena, mas sem nunca me fazer esquecer daquele show macabro de horrores. Bom, o tempo passou e o medo foi embora; e a algumas semanas atrás resolvi finalmente assistir ao clássico de Kubrick mais uma vez. Ainda bem que eu nunca me esqueci desse filme.

Depois de espancarem o mendigo eu só pude ir dormir.
   Lançado em 1971, A Clokwork Orange chocou e fascinou plateias pelo mundo inteiro, sendo aclamado até hoje como um dos maiores clássicos do cinema. Interessante como a opinião crítica muitas vezes se distancia tanto da do público corrente (e estou inserido aí); mas neste caso, acredito que a apreciação seja universal. Baseado no livro homônimo de Anthony Burgess, a ficção nos leva à uma Inglaterra futurista e segue os passos de Alex DeLarge. Não, esta não é uma história com naves e led's brilhando, protagonizada por algum herói conquistador (alguém reparou no nome do protagonista?). O ambiente inglês retratado é violento e sujo, individualista e sexual ao extremo. Jovens se organizam em gangues, e tomam o ambiente público para servir de palco as suas atrocidades - estupros, roubos, espancamentos - sob a quase risível justificativa da inconsequência jovem. Pais e justiça se entregam a violência, fechando os olhos aos futuros cidadãos. 

   Para causar mais estranhamento nos leitores, um sistema de gírias foi desenvolvido pelo escritor do romance, o Nadsat, ao misturar inglês, russo e um dialeto local da Inglaterra, o cockney. Uma infinidade de palavras foi "traduzida" a este dialeto ininteligível, como moloco (leite), chavalco (homem) ou Devotchka (garota). Bem interessante a ideia, ao trazer aos leitores um pouco da juventude contrária até mesmo a linguagem, que foge da linguagem padrão numa tentativa de autoafirmação (quem nunca gostou de usar gírias, manolos). O "único" problema é a dificuldade em se entender cada frase do livro sem ao menos ir uma vez no glossário de palavras. Experiência que me fez de uma vez por todas partir direto pro filme. Posso até desafiar meu companheiro de blog Israel a ler e resenhar esta obra literária; sem usar a versão romantizada, por favor. No caso do filme, a linguagem é bem mais suavizada, trazendo o correto estranhamento aos espectadores, mas sem desconforto. E isso é uma das infinitas qualidade que Laranja Mecânica possui.


   Saindo um pouco do roteiro, vamos nos ater ao filme em si; porque é este que realmente impressiona. O mago Stanley Kubrick (O Iluminado e 2001 - Uma Odisseia no Espaço) conseguiu fazer do filme uma adaptação perfeita do livro, às palavras de ninguém mesmo que do próprio escritor da história. Com um orçamento relativamente baixo - 2,2 milhões de dólares - Kubrick deu vida a cenas chocantes, revoltosas, angustiantes; mas ao mesmo tempo lindas de se apreciar, maravilhosamente executadas. A acidez e sarcasmo também marcam o filme do início ao fim; até mesmo o título não escapa, com um slogan nada menos que intrigante: "conheça as aventuras de um jovem que tem como principal interesses estupro, ultra-violência e Beethoven".


   O enfrentamento entre duas gangues rivais resume muito bem isso. Um baile de violência explícita, lindo aos olhos mas pesado na consciência, visto de uma câmera sensível ao horror e beleza da batalha travada entre estes quase "dançarinos". A trilha sonora adiciona mais a esta dança macabra, que tudo ou nada tem a ver com as composições de Beethoven. E a fotografia. Impecável, simplesmente impecável, marcando de vez esta cena em minha mente. 

Alex e seus "drugues". Fotografia, figurino e personagens que marcaram o cinema.

   Tudo isso em apenas 3 dos pouco mais de 130 minutos de maravilha técnica que se apresenta. Nenhuma premiação foi dada ao filme, que somou 14 indicações dentre Óscar, Globo de Ouro e BAFTA. Ao meu ver um erro que demonstra a falibilidade destas premiações (mas não vamos tirar sua credibilidade, por favor). O filme hoje é considerado uma das melhores adaptações já produzidas, possuidor uma das melhores trilhas sonoras do cinema, uma fotografia que pra mim desbanca muitos outros clássicos e um anti-herói marcante. 


   Voltamos ao nosso imperial protagonista, Alex DeLarge. É sobre ele que todo o filme se apoia, o ponto de referência de uma história grandiosa por si só. O ator Malcolm McDowell carregou toda esta responsabilidade sobre si, e não decepcionou. Diz-se que o diretor Kubrick só fizera o filme com a certeza de ter o ator no papel principal. Realmente, McDowell
 trouxe um personagem sádico, cruel, irreverente e imponente. Vestido de forma escandalosa, munido de seu bastão e seus drugues, ele se eleva como o centro do mundo, poderoso e invencível, subjugando a quem puder, cometendo crimes suficientes para o filme ser censurado em alguns países. E quando lhe der na telha, ele retorna a sua casa, ao aconchego de papai e mamãe, sem preocupações sobre o que fizera ou deixara de fazer. Por que, ele era Alex, DeLarge. Uma contradição complexa e perfeita, um retrato do futuro social idealizada por Burgess, egoísta, perverso e sem valores. E por que não uma amostra de parte da juventude atual?

O Tratamento Ludovico.
   Digitei, digitei, digitei e não cheguei a citar a sinopse do filme, sobre a prisão de nosso anti-herói e este tal tratamento que freara sua violência. Bom, posso dizer que a "cura" para seu problema tem o nome de "Tratamento Ludovico"; mas falar mais do que isso seria tirar parte da graça do filme (e não pense em procurar outra resenha mais esclarecedora eim!). Além disso, não acho que tenha sido o foco de Kubrick ou Burgess ter no tratamento o centro do filme. Este não passa de um caminho para a crítica de Laranja Mecânica; uma crítica a sociedade liberal ao extremo quando precisa ser rígida, autoritária e indecente na sua forma de buscar a liberdade. Entender a última parte do que acabei de dizer, acho que só aos que assistirem a estas obra prima do cinema. E espero mais do que tudo ter despertado este interesse aos que leem essa resenha. 

   A todos os leitores eu peço desculpas pela demora nesta resenha, mas que com certeza, semana que vem tem mais! Até pessoas.