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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Resenha - O Matador



Título Original: O Matador
Gênero: Drama
Autora: Patrícia Melo
Edição:
Ano: 2002
INBS: 85-7164-497-7
Nº de Páginas:204
Sinopse:
   (Sinopse da orelha)Um jovem da periferia da cidade grande perde uma aposta de futebol e pinta os cabelos de louro. Essa simples brincadeira desencadeia uma série de problemas que farão do protagonista desse romance um criminoso brutal.
   Num estilo vertiginoso, com extrema violênica verbal a qual não faltam sensibilidade e humor, ainda que abrasivo, Patrícia nos mostra o percurso de jovem frustado e perplexo que já não sabe a diferença entre violência e um baile funk, entre o amor e o ódio.(...)
   (Sinopse da contra-capa) Conheça Máiquel. Conheça a filosofia de vida de Máiquel. Observe Máiquel tranformar-se em herói. Perceba como uma dor de dente pode mudar uma vida. Acompanhe a trajetória de Máiquel, seus amores, seus sofrimentos, suas indecisões, suas boas intenções e as atitudes violentas que acaba por tomar. Impressione-se com a brilhante carreira de Máiquel, seus amigos, suas ascenção, seu poder. Sobretudo trate de entender Máiquel: ele pode estar ao seu lado neste instante.


    Esse livro  foge um pouco do meu habitual. Na verdade, ouso dizer que ele foge dessa blogosfera literária. É nacional, mas não foi lançado recentemente. Pode até ser conhecido, mas não foi escrito por Machado de Assis, nem é obrigatório na escola. Em suma, não há mais marketing sobre ele. É um daqueles livros que você talvez encontre na estante do seu avô, ou do seu tio, mas você vai achar que é chato. Vai ignorar. Vai esquecer. Vai nascer e morrer talvez sem ouvir falar dele. Mas se der uma chance e lê-lo, acredite, ele vai mecher no modo como você pensa.

   É incomum, mas que tal começarmos pela autora. Patrícia Melo. Você conhece esse nome? Pouco depois de começar a ler, eu resolvi pesquisar um pouco sobre. "Ela é brasileira, talvez mantivesse algum website", pensei eu. Não encontrei website, mas tinha bastante informação sobre ela. Começando com: Em 2001, ganhou o Prêmio Jabuti de Literatura por seu trabalho em "Inferno". Já deu pra ver que não estava lidando com pouca coisa  (não me entenda mal, todo autor merece respeito, mas, convenhamos, há hierarquias em tudo).Fonte AQUI

   Sem mais delongas, vamos falar diretamente do que interessa: O livro. Livro este que, por acaso, foi publicado um ano antes do meu nascimento - 1995. Se você observou ali em cima, está 2002, mas observe que está é a 2ª Edição. É, creio eu, o livro mais antigo que já resenhei aqui, tirando os clássicos.

"Tudo começou quando eu perdi uma aposta."
   É com essa frase que o livro começa. Logo nos primeiro capítulos o livro já vai mostrando a - sempre em decadência - situação miserável do protagonista. E se você, como eu, pensa que essa situação vai melhorar no fim, desista. Não há melhorias. Não em um aspecto geral, amplo. Tudo que há são simples intercalações de "em que aspecto acontecerá a desgraça". Família? Saúde? Situação econômica? Qual?! Melhoram uns, pioram outros. É assim o tempo todo.



    O livro é narrado pelo próprio protagonista - Máiquel. É interessante como a visão dele muda conforme o tempo passa. Conforme as coisas acontecem. A narrativa está repleta de jargão popular, bem como os diálogos que ali se encontram. Ou seja, palavrões, gírias, elogios e ofensas se dão da mesma maneira que se davam nos meados dos anos 90.

   Esse modo popular de escrita me trouxe o questionamente de até onde essa história pode ser real e até onde pode ser imaginada. Apesar de ser um livro de ficção, sabemos que para imaginar você tem que se inspirar. Onde Patrícia se inspirou? Certamente há traços da realidade da época nessas palavras, disso eu tenho certeza.

   Diálogos, já que eles foram citados, há uma péssima notícia em termos de diagramação: a pontuação. Nos diálogos, ela é completa e totalmente inexistente. Não há nada. Nem travessões, nem aspas nem nada. Apenas virgulas - que são obrigadas a substituir todos os demais sinais gráficos. A coisa é fácil no início. Cada fala é uma linha. Apostos bem definidos nos mostram quem fala. Complicado fica no meio, quando verdadeiros debates são escritos em apenas um parágrafo, que pode tomar até duas páginas. É confuso, irritante e exige uma concentração gigante, do contrário você se perde nos vocábulos.

   Um outro fator que eu considerei interessante foi a falta de lineariedade da autora. Capítulos que começam contando o fim, passam por um pedaço do desenvolvimento, abraçam a introdução e saem levando o pedacinho final de desenvolvimento que faltava. Não é recorrente e é mais frequente no início, quando a trama está menos elabora, mas eu gostei.

   Todos os fatos da narrativa são permeados por reflexões, questionamentos, perguntas, dúvidas. Nunca respostas. Às vezes palpites, chutes. Quando você junta isso com os diálogos gigantes e sem pontuação. Não tem jeito, você fica louco! Afinal, ele disse isso ou pensou? Dúvidas, dúvidas, dúvidas...

   Mas, espera, foi mencionado muito pouco do enredo do livro, não? Pra saciar a sua sede eu direi muito pouco. Máiquel é um jovem que em uma que perde uma aposta e pinta os cabelos de loiro. Um fato simples, pode acontecer com qualquer um. Mas o que acontece com ele é inesperado. Ao ver seu novo eu, algo nele nasce - ou seria melhor dizer que desperta? - e ele tem a sua confiança e seu amor por si próprio renovados.

   Máiquel nunca teve más intenções - pelo menos não no início. Ele queria um emprego novo, casar, ter filhos, constituir família e aí tudo desaba. Um erro, uma bala, ou melhor, um ato impensado. O ditado está correto: um abismo leva a outro. E assim foi com Máiquel. Cada vez mais pra baixo.

   O livro é uma grande sequência de decisões não calculadas e consequência catatróficas. É muito deprimente em muitas partes, mas revela coisas que muita gente não percebe. Como as pessoas são usadas. Como tudo se organiza e como, se você permitir, será usado, abusado e depois jogado fora.

   O livro não terminou da maneira que eu queria. Mas acho que se fosse do meu jeito toda a verosimilhança que o texto apresenta iria por água abaixo. Eu recomendo esse livro. Não é uma leitura apenas pra lazer, as a história, além de interessante, é cheia de significados. Mas, cuidado, o livro é recheado com temas de sexo, drogas e muita violência.

E o conceito final de O Matador é:
3 - Bom

OBS: A autora levou todas as suas obras para a Editora Rocco. Por isso, caso você tenha interessa em adquirir a obra, saiba que pode encontrar tanto da Companhia das Letras, quanto da Rocco. Eu acredito ser mais fácil achar da Rocco, pois foi publicado mais recentemente, embora ache essa capa desse que eu li a mais bonita.

   Essa obra foi adaptada para o cinema com o título de "O Homem do Ano". O título tem ligação com o clímax da estória. Eu acho que "O Matador" seria muito mais impactante, enfim... Que posso eu fazer?
   Farei um pedido para o Beneson resenhar o filme para a gente, ok? Será bem legal!